"Bendito o que semeia livros à mão cheia e manda o povo pensar!" (Castro Alves)

Frentistas/consumidores


Engatinhar literário


                        Em geral, os autores são definidos em sua obra por períodos, para, talvez, serem melhor compreendidos. Mérito à parte, eu costumo classificar o meu primeiro conjunto de manuseio com as letras de “engatinhar literário”. Separo esse primeiro período tomando para mim um conselho dado por Mário de Andrade a Fernando Sabino, quando o ainda imberbe escritor mineiro “ousou” lhe enviar para apreciação os seus primeiros contos. O já consagrado escritor Modernista disse mais ou menos assim: “Se tens vinte anos, andas a ler, que esse é o caminho. Se tens quarenta, pára”. Caso a essência disso com o que um maestro diria a alguém que possuía alguma iniciação musical mas gostaria de tocar piano aos quinze.
                        Na casa dos saindo dos dezoito e entrando no caminho dos vinte e poucos anos, compus num bloco de mesmo fôlego uma novela, quatro romances, dois livretos de poemas, dois livros de contos em parceria com o Flory e participei de uma coletânea de poemas. O conselho de Mário de Andrade me chega justamente na conclusão do romance Clareira, que foi o meu TCC de Letras, em 1988, na Universidade Federal do Pará. Como eu tinha vinte e poucos anos e avistei no que tinha produzido, salvo os contos de conteúdo humorístico, um veio quase que eminentemente ligado à minha militância política ao Partido Comunista do Brasil, parei de escrever e fui ler. Não suspendi a pena naquele instante, é bom que se diga, em razão da ideologia predominar à criação, mas sim pelo fato de ela se encontrar a milhas de distância da qualidade do que fez, por exemplo, um Brechet, Maiakovsky, Vianinha e Jorge Amado.
                        Ajuda a emoldurar essa “fase” o fato de que toda ela não veio a público por intermédio dos canais normais de editoração. À exceção da coletânea de poemas Enluadonovo, que foi rodada em cem exemplares, em mimeógrafo, os restantes não superaram a cota de dois exemplares. Escrevi-os na velha máquina datilográfica, cortei as folhas de papel ao meio, passei cola nas bordas, desenhei a capa e, pronto, lá estava um livro a rodar no círculo de meia dúzia de leitores.
                        Inicia-se esse período com a “publicação”, em 80, de um Um pato na terra do tucupi. No mesmo ano, veio Duelo de tesouras. Ambos são constituídos de contos humorísticos, escritos em parceria com o Floriano Peixoto, o Flory. Contos de ambos foram publicados no jornal PQP – Pra Quem Pode. Duelo de tesouras se perdeu no tempo. Um pato na terra do tucupi se salvou para contar a história desse começo:    


                        A seguir vieram os livretos de poemas Quem ficar chorará e Inciso. Os dois tiveram o mesmo destino de Duelo de tesouros, sumiram em sua trajetória de leitura.
                        Na sequência, em 82, chegou o primeiro esboço de romance, a novela Harpia, que conta a história de um grupo de hippies em que a personagem principal, Luci, abandona a casa do pai, um coronel do Exército, e vai viver com Força, o líder do grupo. A história contesta a Ditadura Militar vigente, mas não se enquadra diretamente aos preceitos comunistas. Não obstante, a influência partidária vem implícita, no instante que os pobres hippies são tão idealizados que não fumam nem “maconha”.   

 
                        Em 83, vêm os romances Centelhas da incoerência, baseado na história de meu pai, que, durante a II Guerra Mundial, sendo soldado do Exército e acusado de extrair os dentes para não para o front, foi preso como desertor por sete meses, e Esgotos, que conta a história do mendigo Rato e de uma série de assassinatos de policias militares cujos uniformes são levados depois para diante de uma delegacia de polícia. No mesmo ano, participei da coletânea de poemas Enluadonovo, ao lado de escritores como Pedro César Batista, Ernane Maurity, Júlia do Vale, Silas Miranda e Adelma Pimentel.   


                                            
                        Escrito em 84, mas “editado” apenas em 88 para servir como TTC de Letras, na UFPa, vem Clareira. A história acontece num lugarejo localizado num ponto da região amazônica, onde se instala uma usina mineradora de alumínio que usa como escrava a mão-de-obra dos habitantes do lugar.  


 



4 comentários:

  1. Valeu meu irmão... Vamos botar o bloco na rua, mesmo que seja de forma digital, o importante e aceitar o novo e acompanhar essa juventudade.

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  2. Gostei do seu marketing para vende suas obras.
    Aqui no Brasil, escritor tem que ser assim - destemido e corajoso!
    Parabéns pelo seu espaço e pelas suas obras.

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  3. João Bosco, estou aqui a acompanhar sua saga. Curtindo muito, aliás, pois ainda pretendo "engatinhar nas letras". Belo trabalho e parabéns! Que 2011 seja um ano de muita inspiração para todos nós!

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  4. Que bom tudo isso. Parabéns! Gostaria de saber se essas capas são Xilogravura... Tou seguindo e te convido a conhecer meu Confisionarium quando puder. Um abraço!

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