"Bendito o que semeia livros à mão cheia e manda o povo pensar!" (Castro Alves)

Frentistas/consumidores


Troca de óleo e ideia 



Criado o Memorial dos Lutadores do Povo do Pará 


Foi criado no último dia 6 de dezembro, durante ato na Assembléia Legislativa do Pará, data do 22º ano do assassinato do deputado João Carlos Batista, o Memorial dos Lutadores do Povo do Pará.

A iniciativa tem a finalidade em organizar um acervo com documentos, objetos, fotografias, materiais em audiovisual e depoimentos que resgatem as lutas desenvolvidas no Pará na segunda metade do século XX. Esse trabalho fará uma pesquisa histórica que possibilite o estudo, a pesquisa e o conhecimento dos lutadores e lutadoras do povo no Pará, para que se tornem referenciais a juventude e as crianças diferentes dos apontados pela mídia e pelas classes dominantes. Possibilitando ainda mostrar a história das lutas travadas no período a ser pesquisado para a organização do acervo.

O Memorial dos Lutadores do Povo do Pará buscará parcerias com organizações públicas e privadas para criar as condições necessárias para reunir o acervo que resgate os lutadores e as lutas dos trabalhadores no campo, na cidade, nas comunidades, em atividades culturais, de gênero, das minorias e estudantis ocorridas no estado.

O ato de criação contou com atividades culturais. Carla, João Bosco e Ernane, do grupo Frieira, apresentaram canções relacionadas as lutas do povo, em seguida o grupo A, corda Bamba apresentou sambas que falam dos movimentos de resistência. Antes de iniciar os debates os poetas Luis Alho, Márcio, Nilton Silva, Samir Raoni e Pedro Batista declamaram poemas.

Na reunião foi apresentada a proposta para a criação do memorial, aprovada por aclamação. Em seguida debateram e aprovaram o Estatuto para as providencias legais, por fim elegeram o Conselho Gestor e o Conselho Fiscal. Participaram ativistas ligados as lutas camponesas, estudantis, sindicais, lideranças partidárias, historiadores, jornalistas, escritores, cientistas políticos, advogados e religiosos de Belém e do interior paraense, Ipixuna do Pará, Moju, Capanema e Barcarena.

A primeira etapa prevista durante a reunião será a elaboração de um plano de trabalho para definir o roteiro da coleta de materiais que integrarão o Memorial dos Lutadores do Povo do Pará. Todas as falas deixaram claro a importância do trabalho para a formação política e ideológica da militância dos movimentos sociais e de toda a sociedade.




  As “feiticeiras” de cada esquina nossa

       

   Numa dessas madrugadas, em que se acorda no vazio, peguei-me respondendo sem querer a uma enquete de rua na TV. Era uma rua qualquer desse mundo. O repórter perguntava às pessoas se elas acreditavam em “feiticeira”. A princípio, o meu sarcasmo instintivo aprumou o travesseiro sob a cabeça e preparou a descair as primeiras palavras. Não obstante, uma espécie de força contrária, levando a coisa a sério, tomou a dianteira e passou a responder, anulando o primeiro ímpeto.
           Sim, sim, eu acredito em “feiticeira”. Antes de dizer que elas estão amoitadas sob a copa das mangueiras de parte das esquinas de Belém, dividindo o espaço com o calor, às vezes com o lixo, com os flanelinhas, com o acelerar dos passos para correr da chuva, com o buzinar abominável dos carros, com o contagiar da conversa de uma gente bonita e festiva que se doa naturalmente como tema para o ofício de qualquer artista, digo de onde elas vêm. São procedentes todas elas, mesmo as que aqui chegaram de forma enviesada, à semelhança das “baianas” nascidas fora da Bahia que vendem acarajé por esse país afora, do mais profundo da floresta, lá onde somente os mistérios possuem credencial para circular.
          Lá, por exemplo, foi moldada a maniva, a espécie de “vaca da amazônia”, da qual se aproveita tudo.
         Com a cautela para não transpor ao sabor pejorativo, não chamamos a essas mulheres diretamente de “bruxas” ou “feiticeiras”. Antes, damos-lhe a denominação carinhosa, em função de sua porção mágica, de “tacacazeiras”. Sim, sim, nelas é que eu acredito como mulheres com poderes além das outras, que se põem, curvadas e com sorrisos largos e ardilosos, a mexer os seus dois distintos caldeirões de bruxaria, esses, que por sua vez, seja manhã, tarde ou madrugada, sejamos nós acompanhados do almoço, janta ou lanche, sejamos nós acompanhados da mais plena fome, ainda que a razão de existir do feitiço não seja para matá-la, mas para despetalar um desejo, nos enlaçam as narinas e a boca e nos sacam de forma quase irresponsável do trajeto original.
          Mescladas as duas porções, a que elas chamam de “goma” e “tucupi”, num recipiente também exclusivo parido na mata, que atende pelo nome de “cuia” e que é quase um ingrediente, nos é servido então o “tacacá”, completado assim com a adição de mais dois imprescindíveis componentes: o camarão e a “folha que treme”. E aí nos quedamos à mais misteriosa das feitiçarias, ela que é assexuada ao paladar, que não sabemos explicar, leigos ou gastrônomos, se é comida, se é bebida, sopa, chá, se deve ser consumida antes, durante ou depois (depois de quê?), e que não desabona os que acabaram de sair da missa e trazem o conforto da comunhão ao sincretismo do templo da boca, os que vão ao cinema, ao teatro, ou ao campo de futebol, os que saem ou voltam para casa... ou os que, após deixarem órfãs as cuias, aproveitam o tremor do jambu e o atiçar da pimenta e trocam um apaixonado beijo de língua.

João Bosco Maia
(Publicado em O Liberal, de 14.01.11




Edilson Panjoja comenta Memórias...

  Em “Memórias quase póstumas de um ex-torturador”, do paraense João Bosco Maia, romance vencedor do “Prêmio IAP de Literatura”, 2006, um homem, imerso num cotidiano decrépito e anódino, e aos oitenta e cinco anos, recebe, num diagnóstico médico, a revelação de que dispõe de apenas dois meses de vida. Recebe também a visita de dois surpreendentes personagens. Com estes, numa espécie de revisita e prestação de contas do obscuro passado, tem que dividir as próprias memórias. Estas, permeadas de atos questionáveis sob diversos ângulos, no que se inclui o ético, embasam-se numa biografia cuja trajetória não se explica senão pela maldade. Quanto a esta, maldade, se não se pode afirmar, com base nas prerrogativas do romance, que seja inata ao homem em geral, pode-se pelo menos supor que seja inerente a alguns homens. Estes, porém, nada extraordinários (para lembrar Maquiavel e Raskólnikov).
       Extraordinário, aliás, seria o sistema político que, em nome da suposta segurança e interesses do Estado, gera em seu ventre medonho homens com tal disposição. Seria. Pois, como denuncia o filósofo Giorgio Aganbem, as democracias contemporâneas têm lançado mão dos chamados estados de exceção como recurso de controle e vigilância dos cidadãos, privando-os de seus direitos, de sua vida. Na concepção de Aganbem, tal recurso se tornou tão corriqueiro, que deixou de ser excepcional, constituindo-se, na verdade, um padrão de atuação dos Estados democráticos.
     Pedro, o personagem em questão, dono de uma personalidade ridícula, foi torturador, funcionário do Estado brasileiro autoritário. Mas o aspecto ridículo que o caracteriza não o é apenas por ter ficado no outro lado, o ativo, do ato de tortura nos infames “porões” da ditadura. Pedro é assim porque, como suas vítimas, não passa de uma peça na grande estrutura de poder ante a qual homens são como insetos; animais preocupados com a fragilidade do próprio abrigo; criaturas culpadas pelo simples fato de existir… Ainda menino, teve que fugir de casa para escapar das maldades do pai, que abusava da própria filha – protetora do menino -, e o surrava, cotidianamente, com hora marcada, independentemente de qualquer travessura.
      Pedro é um homem de seu tempo. Nascido justamente quando a mãe falecia, motivo pelo qual recebeu por toda a vida o ódio do pai, fez-se ante a ausência de referências e certezas basilares. Pedro é um homem perdido, cuja existência se fez à base de mentiras, fingimentos, ficções. Perdido também resta o leitor, quando, ao final, maravilhado com os rumos tomados pela história do personagem, sente a mesma esvair-se ante sua vista, ante suas mãos, num exemplo do que disse alguém acerca da modernidade. Nesta, afirmou, tudo o que é sólido se desmancha no ar.
       Resta, porém, a admiração com o talento e a louvável capacidade narrativa de João Bosco Maia. Sem dúvida, um dos nomes da nova – e boa! – literatura paraense. Ou melhor: literatura brasileira. Melhor ainda: Literatura.

(extraído do sítio Coluna Crítica)
 
 


Mesmo engolindo o abominável “bolsa bandeira”...


          Agarro-me ainda num filete de esperança a uma forma mais justa de governar e, antes, de atingir o poder. Por isso, declaro o meu voto – de artista escritor talvez - para Ana Júlia. É-me muito caro ver a doação (espero que sazonal, em nome da tal estratégia) da indulgência ao maior dos corruptos do Pará, do mandante do massacre em El Dourado e do falso oftalmologista (não cito nomes em razão do pavor em ser processado e sentenciado por “crime de calúnia”). É-me tão igual caro ter que fazer essa opção pela candidata que aquiesce com essa legião de famintos , chamada antes apaixonadamente de militância, que, por dez reais, sacode nas ruas a bandeira com a sua propaganda política. Ainda que discordando com esse tipo vergonhoso de “distribuição de renda”, ou “bolsa bandeira”, procedimento historicamente adotado pelos inescrupulosos, jamais me inclinaria a dar apoio a esse grupo que sempre fez pouco caso dos direitos elementares do homem e que, para atingir o poder recorre a métodos subtraídos ao fascismo, como a utilização de temas de ordem religiosa e sexual. Ou argumentos ridiculamente deprimentes, como se fôssemos idiotas, tal esse sobre parte da copa do mundo que será jogada em Manaus...

Primeira Parada do Orgulho dos Sem-Orkut e Genéricos

          Por muito pouco, nos últimos dez anos, não cedi à febre que se abateu sobre a epiderme das pessoas do mundo inteiro e não mandei estampar uma marca indelével em qualquer ponto visível da minha própria pele. Como todo sujeito que esteve escudado apenas pelo antitérmico do seu fórum íntimo, caí no constrangimento peculiar que sofre as minorias ante a mira de olhares, quer nas vias públicas, quer no trabalho, a vasculhar sobre a minha figura à procura da tal tatuagem. Cadê a prova cabal - indagavam-se as retinas - de que eu não era um diferente e, por conseguinte, não estava contido no quadro da grande maioria? 
         E não estava mesmo. Por opção, eu pertencia ao grupo ínfimo, diferente, que se fecha em si mesmo e evita confrontar-se com a carga de escárnio, piadinhas maldosas e coisas do gênero que costumam vir do lado oposto. Por muito tempo, por exemplo, deixei de ir à praia, na intenção de evitar que, ocupando eu o menor traje permitido e longe das mangas compridas que eu recorria para proteção, aparecesse aquele menino e dissesse à mãe, abismado: “E ele fala!”
          Não é de outra forma que resisto à febre quase que terçã do orkut, embora tenha experimentado entrar ultimamente no seu primo-irmão de tolice e vazio, o “facebook”.
          Formulei esta posição a partir da contramão da sugestão de algumas figuras, de renome nacional ou próximas, que falavam entusiasmadas da nova maravilha. Ora, não é conceituação prévia, mas sempre é bom e recomendável seguir no sentido contrário ao que prega uma Xuxa, Carla Peres ou Gugu Liberato.
          O quê?! Você não tem orkut?! - quantas vezes me vi ilhado por esse tipo de indagação e tive de sair de fininho para não cair no alvo da ridicularização...
          Se saímos, minha família e eu, ilesos à onda da tatuagem no corpo, não tivemos sucesso pleno na febre do orkut. Lá atrás, minha esposa e eu conseguimos frear o desejo de nossas meninas, na época com 14 e 16 anos, com o argumento quase que autoritário de que fariam a bendita tatuagem quando fossem donas dos próprios narizes. Ambas atingiram esse estágio e o desejo da tatuagem, felizmente, ficou apenas como uma cômica lembrança do passado. Não obstante, por essa mesma época também, as duas foram tragadas pela pandemia do orkut, ainda que tivéssemos acrescentados à profilaxia doses maiores de livros e muito papo.
          Não houve escapatória, e o jeito, como se deve fazer com qualquer conjunto de sintomas que levam a uma síndrome, foi estudá-la e torcer para que a impressão inicial advinda dos famosos estivesse errada.
          Não estava, infelizmente. Por entre a fresta do orkut das “meninas”, deparei-me com uma imensa “comunidade” que, a princípio, poderia até encantar a um socialista que conheceu Marx apenas através da boca de terceiros, dada a unidade de pensamento; que poderia até encantar também um leitor excitado que acharia estar diante de um novo gênero literário, o “de perfil”, à semelhança talvez do “de cordel”. Porém, além de uma arriscada rede que passa informações valiosas de seu cotidiano que podem cair em mãos inescrupulosas, isto de um lado, deparei-me, de outro, com uma imensidade de informações que não condizem com o real, pois, só para citar um exemplo, se fossem verdadeiros apenas dez por cento dos que se declaram leitores, nós estaríamos bem servidos enquanto nação próspera. O próprio “Bitôvi” ali apreciado teria um espaçozinho nas FM, estas, por sua vez, perversamente idênticas do Oiapoque ao Chuí.
          Provocado, o corpo se vira com os seus anticorpos. Assim aconteceu com as minhas duas “meninas”, uma agora a meio caminho da engenharia de automação e a outra já em exercício da geo-física, que me ajudam neste momento a pegar o megafone e tentar organizar a Primeira Parada dos Sem-Orkut e Genéricos.
          Em prol de nosso orgulho, vamos à luta!



Gafe sobre a ruína

          Para quem tenta pela segunda vez chegar ao Palácio do Planalto, o candidato José Serra parece não ter avançado no seu ideário que pretende tomar nas mãos as rédeas do país. Pode-se até creditar a gafe ao momento de pesar e comoção geral por que passamos, em razão dos tremores que ainda irradiam e que por longo tempo se farão irradiar do epicentro Haiti, mas ouvir-lhe dizer que a médica Zilda Arns, à parte lá a sua vocação de freira sem hábito, é a grande responsável pela queda da mortalidade infantil, vamos respeitar, é no mínimo assinar um atestado de falta de tato e visão sobre os problemas concretos que se abatem sobre o Brasil, ou firmar uma incompetência durante os últimos vinte anos, doze dos quais, se somados os dois de Collor e os dois de Itamar, estiveram sob influência tucana.

          Ora, se de fato a coisa se desse de forma tão simples e tão providencial como se vem pondo em difusão, que tal o candidato se aproveitar da ideia e debelar de vez com o problema da mortalidade infantil no Brasil, que a acompanha desde o seu próprio engatinhar, e criar o Ministério da Pastoral da Criança? Se a Pastoral realizou esse profundo milagre, imaginem-na dotada de recursos públicos próprios e ter um por cento somente da propaganda estatal para veicular seus propósitos? Seria muito interessante.

          E que tal, aproveitando esse tipo de sociologia ministrada em porta de cabaré, ampliar essa mesma ideia e usar uma espécie de soro caseiro, em que se mistura livro e educação de qualidade, e acolher o saldo positivo da primeira fase do homem e protegê-lo em sua segunda fase com a criação do Ministério da Pastoral do Adolescente?

         Vejo com algum desconforto o nível dos debates que se avizinha com a campanha à Presidência da República. O prenúncio é de que se fortifique a política do assistencialismo pelo assistencialismo, em detrimento de um planejamento verdadeiramente seguro e sério.

4 comentários:

  1. Hola, por lo que he podido entender hablas de política, de los gobernantes podemos esperar poco, mucho menos podemos creerlos cuando nos piden el voto, porque para conseguirlo prometen muchas cosas que luego no cumplen, así pasa en todos los países.
    Muchas gracías por entrar en mi portal, eso me ha dado la oportunidad de conocer ek tuyo, me ha encantado entrar en él.
    Dices que escribes y vendes libros y me invitas a leerlos para discutirlos, cuando tenga tiempo de hacerlo te los pidos o me los bajo, encantada de leer tus libros para hablarlos contigo.
    Un abrazo de una amiga bloguera desde España

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  2. Olá João Bosco, venho retribuir a visita. Bem interessante o teu blog. Voltarei com mas calma para ler mais. Abraços

    Ariadna Garibaldi

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  3. Vim retribuir sua visita e conhecer o seu espaço. Voltarei outra hora com mais calma para ver seus livros. Desejo-lhe sucesso como escritor. Grande abraço.

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  4. Olá João, ando meio sumida...
    mas concordo contigo.
    Realmente estamos sem opção no Pará, votei na Ana também, mas digo isso com o coração na mão.
    Mas eu acreditava que ela era "menos pior" que o outro candidato.
    Pena que ele ganhou...

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